ORIGENS
As raízes desta antiga tradição de luta, hoje desporto, perdem-se nos anais do tempo. As menções de algumas lutas corpo a corpo similares se encontram em muitos países europeus desde o início da Idade do Bronze. Ainda que a sua presença na antiga Lusitânia, não esteja muito documentada, contudo pode-se vislumbrar nas palavras de Estrabão (entre outros autores antigos) que a luta era um costume muito vulgar entre os povos do norte e do ocidente (Lusitânia) da Ibéria, que realizavam entre eles jogos de guerra e exercicios de luta com armas e sem armas. Convém salientar de que estes registos são já do século I da Era Cristã, uma época em que a Lusitânia já estaria totalmente sob domínio romano, e a luta tradicional em declíneo. Portanto, as suas origens serão centenas de anos muito mais antigas. Qualquer que seja a sua verdadeira origem, as lutas sem armas corpo a corpo eram amplamente praticadas desde a Antiguidade em territórios rurais e montanhosos, e deste modo estariam sempre ligadas ao ambiente rural e rusticidade folclórica dos pastores e camponeses. Desconhece-se exactamente o momento concreto em que se dá a transição da antiga luta tradicional lusitana (cujo verdadeiro nome desconhecemos, se é que a antiga luta teve mesmo uma denominação oficial) para a moderna Maluta que se extinguiu quase completamnete no século XX no Sabugal. Um dos muitos outros nomes por que era conhecida esta antiga luta tradicional lusitana praticada em muitas aldeias da Beira interior no distrito da Guarda, era Queda. Ainda que nos pareça mais plausível que esta última (a Maluta) tenha aparecido de forma progressiva devido à evolução natural da própria luta, e dos praticantes que vão refinando as suas técnicas. Hoje, para identificar a renascida e milenária luta tradicional lusitana, nós membros da comunidade nativa lusitana mais consciente da sua verdadeira identidade étnico-cultural lusitana e não portuguesa, escolhemos o nome Gauruni, esta é a mesma luta que até há algumas décadas atrás (até meio do século passado) era ainda praticada sob o nome português de Maluta (ou Má-luta, como quer significar a palavra), é muito provável que nos seus primeiros tempos esta luta tradicional lusitana tivesse outro nome, tivesse vários nomes locais ou mesmo que não tivesse nenhum nome que a identificásse, hoje e mesmo com novos regulamentos e técnicas mais aperfeiçoadas, a actual luta lusitana é a mesma de então, ou no mínimo sua descendente directa. A Gauruni é uma luta tradicional lusitana de origem céltica muito remota, a sua fonte original estará muito provavelmente nos primeiros povos Indo-iranianos e na vaga seguinte de tribos Célticas que chegaram à Europa ocidental e à Lusitânia. Portanto muito antes da chegada de gregos e de romanos à Lusitânia, os lusitanos já praticavam esta luta, que será a última sobrevivente natural dos antigos desportos de combate lusitanos. No princípio a Gauruni era praticada por guerreiros lusitanos, pela aristocracia lusa e por membros das várias confrarias armadas que teriam então existido na Lusitânia, todos eles teriam de demonstar o seu valor e a sua coragem aos seus irmãos de armas em torneiros e jogos de combate tradicionalmente organizados, em lutas com armas, e corpo a corpo. Com o passar do tempo, numa segunda fase, é que a luta tradicional passou para os camponeses e pastores que o teriam praticado em festas nas suas comunidades rurais e aldeias, onde durante algumas épocas teriam sido muito populares. As aldeias e comunidades por vezes combatiam entre si através dos seus melhores lutadores, que desta forma teriam defendido a honra das suas aldeias, ou garantido a pôsse de um qualquer prémio, fossem terras, cursos hídricos, animais, pastagens, caminhos, bosques ou outros recursos naturais. Até ao seu declíneo passado e morte no século XX, os combatentes da luta lusitana, teriam preservado suas técnicas e manhas zelosamente, e as transmitido pouco a pouco aos seus descendentes famíliares ou aos melhores alunos das suas aldeias. Depois de algumas décadas (até ao final do século XX) sem qualquer actividade, ou de morte aparente. Esta luta tradicional lusitana (até então conhecida por Maluta) renasceu e foi revivida sob o nome em moderno lusitânico de Gauruni, cujo significado é exactamente o mesmo em português. Hoje de todos os desportos, a Gauruni é considerada o desporto nacional da Lusitânia dentro da comunidade nativa lusitana consciente da sua verdadeira identidade étnico-cultural. Se bem que, é certo, que as regras e práticas antigas desta luta eram diferentes das actuais (mesmo que o seu processo evolutivo natural não fosse interrompido), muitos dos costumes desta forma de lutar (comum em outras lutas também) permanecem os mesmo. Os dados lutico-históricos da evolução de uma luta tradicional como a Gauruni (ou Maluta) podem ser divididos em três fases: 1.ª Época histórica: É a primeira etapa. Ela abrange um período que vai desde o surgimento da luta tradicional na Lusitânia trazida muito provavelmente pelos primeiros povos Indo-irânicos no segundo milénio antes de Cristo, passando pelo seu aperfeiçoamento pelos povos Celtas que se teriam misturados com os primeiros povos lusitanos de matriz racial mediterrânica e pré-Indoeuropeia, até às guerras lusitanas do período da conquista romana, cerca do ano 100 antes de Cristo onde os guerreiros lusitanos desmonstravam toda a sua bravura nos jogos de guerra entre os diferentes principados da Federação Lusitana ou nas batalhas sangrentas contra os romanos. Nessa altura, já teriam aparecido as principais técnicas que hoje são empregues na Gauruni (Maluta) e noutras lutas tradicionais congéneres. Os caciques locais da época (Coroneros) teriam desempenhado também um papel importante na aceitação e preservação desta luta antiga e dos outros jogos de combate. 2.ª Época folclórica: É a segunda etapa. Teria começado com o domínio total da Lusitânia pelos romanos e a criação oficial da Província romana da Lusitânia, cerca do ano 25 antes de Cristo. Com a efectiva chegada, ocupação e depois a colonização das nossas terras pelos romanos e outras gentes do Império, este desporto tradicional teria sido relegado para um papel secundário e de quase total esquecimento nos principais centros urbanos da Lusitânia ocupada, e substituído pelos desportos greco-romanos. Contudo o seu declíneo nas pequenas comunidades do interior onde a luta tradicional teria um papel ainda importantíssimo no âmbito das celebrações de actos populares ou dias festivos, só começou a verificar-se depois das invasões bárbaras no século V da Era Cristã, os suevos primeiro e os visigodos depois teriam dizimado aldeias e comunidades inteiras e massacrado sem piedade milhares de milhares de nativos, principalmente aqueles que ainda permaneciam fiéis aos seus costumes pagãos lusitanos e jogos tradicionais (só a título informativo podemos assegurar pelos dados históricos que na Calécia a norte do Douro o povo Calaico foi reduzido a metade da sua população pelos massacres sucessivos perpretados pelos suevos cristianizados), porque eram considerados uma ameaça ao poder militar dos bárbaros romanizados. Esta etapa moribunda passaria o Período da conquista Islamo-árabe da Lusitânia até ao século XII da Era Cristão quando Portugal invadiu e anexou as Terras Lusas ao seu território. 3.ª Época terminal: É a terceira etapa. Que vai do início do domínio português da Lusitânia até ao fim do século XX. É um período moribundo e de esquecimento, coincidindo com o desaparecimento de muitas das tradições culturais do povo nativo lusitano devido ao à indiferença das autoridades locais e ao abandono por parte do poder central. Paradoxalmente, é nesta fase que também começam a regular este desporto com os primeiros regulamentos. Nesta fase final, a luta tradicional lusitana poderia ser de facto considerada extinta no início da segunda metade do século XX. Os últimos registos de um combate de luta tradicional lusitana, Maluta (ou Gauruni), referem-se a uma pequena localidade do concelho do Sabugal próximo da fronteira espanhola. 4.ª Época revivalista: É a actualidade neste inicío do século XXI. É criada a primeira associação de sempre, a Federação de Luta Tradicional Lusitana (Gauruni) em 2008 por um grupo de nacionalistas lusitanos defensores do renascimento e da autonomia política da Lusitânia face ao poder central português. Endobelis Ampilua, um humilde homem do povo e defensor incansável da cultura e da luta do povo nativo lusitano pela liberdade, e conhecedor de algumas artes antigas, como fundador da primeira associação organizada da luta lusitana, também foi escolhido como o seu primeiro presidente. Nesta etapa institucional de renascimento, escrevem-se os primeiros regulamentos, que permitirão ao fim de algumas décadas depois do último combate de Maluta no soito, o renascimento da Gauruni a luta tradicional lusitana. De facto, as origens da luta tradicional lusitana (Gauruni, Maluta ou com outro nome qualquer) assim como da Galhofa calaica ou mesmo de todas as outras lutas tradicionais europeias é indeterminada e discutível, contudo apesar de haverem registos de escritores romanos e gregos que relatam a existência de diferentes combates corpo a corpo e/ou com armas letais entre os antigos lusitanos nos seus dias festivos antes da conquista romana, poderemos assegurar que a luta é tão antiga quanto o homem, pois tal como hoje, no passado o homem também precisava de lutar todos os dias para poder sobreviver. Mas infelizmente se uma luta tradicional não for acarinhada nem praticada pelos seus, ela estará sempre condenada a morrer, foi o que aconteceu a muitas das artes tradicionais lusitanas... A Gauruni foi sempre um desporto rural, praticada nas aldeias mais remotas e isoladas da Serra da Estrela e nas áreas circundantes até à raia ou mesmo como na Antiguidade quando não existiam os actuais dois países ibéricos, ela (ou uma sua variante) terá sido também praticada para além da actual fronteira espanhola, mas nunca terá sido praticada na Beira-Litoral nem nas cidades e grandes centros urbanos da Lusitânia, nem nas outras regiões de Portugal. Contudo, hoje estamos cientes que só após a conquista dos jovens das cidades lusitanas é que esta luta poderá assegurar a sua sobrevivência efectiva. Com a implementação de regras mais modernas e de campeonados regulares. Contudo, o facto de queremos expandir esta luta tradicional às cidades da Lusitânia, não significa que a sua verdadeira popularidade seja esquecida nas aldeias do interior da Lusitânia onde estarão sempre as suas raízes. É importante que os lutadores e entusiastas desta luta tradicional não a confundam com a luta (wrestling) televisiva e comercial que não passa de um espectáculo circense e teatral (embora os seus actores algumas vezes também se magoem) com vencedores e derrotados combinados. Estes dois tipos de luta (as tradicionais e as teatrais) são duas realidades diferentes. Tal como nas outras lutas tradicionais (pese a diferença de estilos), os praticantes da Gauruni compartilham um agarre correcto, projecções comuns assim como um grande número técnicas ou manhas similares.